sábado, 31 de dezembro de 2011


Poema do Adeus

Hoje vou chorar pela última vez
E quando o sol se despedir
Para a lua acordar
A primeira estrela virá
Acompanhada de muitas outras
Girando como em um carrossel,
Daí então, exorcizarei
Todos os meus fantasmas,
Não substituirei fantasmas velhos por novos,
Deixarei o passado no seu lugar de direito
E só o visitarei através das velhas fotos
Não mais com o desejo de ressuscitá-lo,
Mas com a simples intenção
De relembrar minha própria história
Porque o presente que é mera ilusão transitória
Separa o que realmente existiu
Daquilo que um dia virá.
Boa noite aos sonhos

Dou boa noite para a noite
Que sonolenta já dorme
E meus olhos cansados adormecem
Entre a fumaça e os sonhos
Nos delírios da madrugada
Repousam todos os sonhos,
Aqueles sonhados acordados
Repousam nos braços do breu
E antes de acordar, Morpheu,
Sauda a Luz da Manhã
E os sonhos despertos
Seguem o curso do horizonte
Que no infinito se confunde com o oceano
E o vento norte anuncia
A chuva lá fora,
Prenuncia em seu sopro quente 
A esperança,
Enquanto os sonhos dormem
Junto com as sombras da noite
Que também já dormem.
"As vezes o curso das águas toma tamanha proporção que não há tempo para transcrever os poemas, então a poesia se personifica e precisamos apenas vivê-la."

domingo, 20 de novembro de 2011

A espera

Esperar, esperar, esperar
Enquanto isso,
A paciência  exercitar
E nas malas carregar
Peças inúteis,
Na cabeça a rebeldia,
No coração, a não submissão.
No outono ainda com cheiro
Das flores da primavera
E as folhas secas,
Caídas no chão
Enquanto o ônibus passa
Uma mulher varre a calçada
E os pensamentos vagam
Entre o ar do outono,
Com cheiro de primavera
Misturado ao cheiro da gordura do pastel
Que se come num boteco,
Enquanto se espera.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

E tal como uma boa pagã
Não acredito em céu ou inferno,
Apenas circulo entre o Olímpo e o Hades,
Por vezes com Eros,
Outras com Ares.
O tempo passa...
Com o implacável nascer e morrer do sol de cada dia
As brumas entrelaçam as lembranças
Para perderem-se nos labirintos da memória
Quando a névoa do tempo encobre o passado                                             É mais fácil lembrar-se dele com a perfeição
Que na verdade nunca existiu.
Mazelas

A miséria humana
Permeando o mundo
Em cada canto
Por todos os lados.

As sequelas humanas
Em todos os lugares
O sorriso e a ferida
Ao longo da jornada.

No mundo da dúvida
A morte é a certeza
Viver nesse mundo
Exige esperteza.

As lágrimas se escondem
Debaixo de destroços
E a vida continua
Sorrindo para a morte.
À luz da Loucura

Sinto o cheiro da boemia
Que inebria minha mente
Entre um pega e um trago
Muitas histórias a contar
Dançando em volta do fogo
O pensamento pega carona
Na fumaça que entra na mente
E o instinto já não sente
Fluem naturalmente
Palavras desatinadas
Desmedidas, condenadas
A fome e a sede
Incompreensível aos olhos sem brilho
À luz da loucura
Tudo se torna mais inteligível.
Lugares errados

Nem Helena, nem Falena
O misto da loucura e lucidez
Uma dose de luxúria e sensatez
Uma face do pecado
Outra, do sagrado
No clarão da lua,
Quer raios de sol
Busca seu lugar
Não pertence a nenhum lugar
Mas está por todo lugar
Nas guerras acompanha as tropas
E quando a guerra acaba
Com Clio e Mnemósine
Volta pra casa
Em Ares procura a paz
Nas guerras busca por Eros
E quando Dionísio encerra a festa
Livre retorna pra casa
Carregando consigo a solidão.
Distante

Pensamentos que só ousam pensar
Não são suficientes às palavras
O Centauro cavalgou para longe
E o Leão ficou pra trás
Tão distante a reinar
Em sua floresta sozinho
As crinas ao vento
Os cascos sempre à postos
E sem olhar pra trás
O Centauro segue em frente
E tão longe nos campos onde corre
Livre e destemido...
Pensa no Leão
E dispensa suas lágrimas
Solitárias a ele...sem nunca parar
E ritualiza suas lembranças
À sombra das árvores
Sob as folhas do outono.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

O Dom da Poesia
(Fragmento)

Deixa a palavra escorregar,
Como um jardim o âmbar e a cidra,
Magnânimo e distraído,
Devagar, devagar, devagar.
                                             Boris Pasternak, 1917.
Invocação

Na solidão, Baco me faz companhia
Me embriago nas lembranças
E nos desejos
Com um velho vinho.

Me refugio da saudade como um vício
A adrenalina me persegue
E na monotonia
Essa abstinência me mata.

Na ausência da loucura
A lucidez domina
E para que ela não impere
Invoco a Baco e sua companhia.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Descoberta

Uma das lições aprendidas
Num outro canto qualquer
Seja menos "porra loca"
Seja mais comedida
Nunca perca as medidas
Proteste mais
Seja mais radical
Seja mais sua essência
Em todo seu esplendor
Viva toda sua ira
E toda paixão dos seus desejos
Não se arrependa de nada
Nem dos impulsos explosivos
Nem dos momentos reflexivos
Eles são o que tornam você
Aquilo que você é,
Humana,
Carregando consigo
Toda grandeza divina
E todo o orgulho profano
E se não fosse tudo isso
Todas as histórias vividas
Essas palavras escritas
Perderiam todo o sentido.
Ontem Hades me visitou
Há tempos que Eros partiu
Aprendi a prantear a dor
No silêncio da solidão.

Dionísio agora
É quem cuida de mim
Sigo meu caminho no improviso
Entre lágrimas e risos.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Urgência

Vivo com a pressa 
De como se fosse morrer amanhã
Com a fome e a sede 
De quem nunca foi saciado
No extremo das paixões
Na intensidade dos desejos,
Na fúria da irá
Vivo como se fosse morrer amanhã
Na luz do sol me deito pra descansar
Pensamentos perdidos que nunca descansam
E adormecer é difícil
Quando as asas do destino
Encobrem nosso caminho.

domingo, 9 de outubro de 2011


Nas noites de Sabá

É noite de Sabá
As fogueiras se acendem,
A chuva cai,
A festa se inicia
As honras começam
Mnemósine não foi convidada
Mas está presente
E todos a dançar
Em volta do fogo, pensam
Nas pequenas paixões
Nos grandes amores
Deixados pra trás
Em outros Sabás
Outros rituais
Pequenas paixões
Só curam pequenas paixões
Não tomam o lugar dos grandes amores
Na intrusa presença de Mnemósine.

À margem

Quando deixo a divindade
Tão sagrada quanto a Lua
Tal como felinos na madrugada
Me jogo a margem
Corro pra rua
Desço à terra
À sombra das virtudes
Tão perto do pecado
Sigo pela linha estreita
Entre o sagrado e o profano
Vou no passo de um raio de sol
E chego na pressa da senhora preguiça.

Lua sem Sol

A Lua triste
Num dia sem Sol
Mais de trinta luas
Já se passaram
E nenhum outro sol brilhou
Nas noites sombrias
E dias chuvosos
Se esconde entre as nuvens
E chora através da chuva
Inspiradora dos amantes
De tantos amantes que teve
E no alto brilha sozinha
Fonte de luz
E brilho apagado
De quem nunca mais
Encontrou o Sol.

sábado, 8 de outubro de 2011

Entre o vazio e o infinito

Eu invado a noite com passos largos
Com o olhar firme de olhos atentos
O pensamento disperso
E o coração solitário.

Busco descobrir os segredos da Lua Cheia
E quem um dia já os desvendou?
Se esse é o grande mistério
Para quem percorre os caminhos obscuros.

Ando pelas calçadas sujas
Enquanto as folhas secas 
Das árvores caem
Regidas pela sinfonia do vento.

O olhar firme
De olhos atentos
Vislumbra um horizonte
Perdido entre o vazio e o infinito.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Paixão de quatro estações

Mais uma primavera se aproxima
O tempo corre pela linha tênue
Entre a chuva fina e fria
Do inverno que insiste em mostrar sua face.

Mas ele não tem como não ceder
Ao cheiro das flores
Que inebriam o olfato
Na mesma proporção em que seu frio gela o tato.

É inevitável,
A primavera vai roubar a cena
E em breve
As tardes serão amenas e ensolaradas.

Mais um ciclo há de se fechar
E de uma paixão por estação
Sempre chega o tempo em que a mesma paixão
Dure as quatro estações.

E assim como chegou 
Com o cheiro da primavera passada
Que se vá...
Nas águas do fim do inverno.
                                
Contenção

Gritai, gritai, gritai
Sob o manto da contenção
Para por louco não parecer
Adulto precisa ser.

Ser adulto é endurecer
Aprender a se conter
Suprimir tudo que sentir
Para por fraco não se fazer.

E tudo para quê?
A prova cabal
Para a sociedade
Satisfazer.

Gritai, gritai, gritai
Extravase todo sentido
Sinta, sinta, sinta
Não se apegue à hipocrisia.

Grite, sinta
Veja e toque
Não seja adulto
Seja Humano!
       

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

No caminho das sombras


Meu destino é vagar pelas sombras
Oscilando entre a penumbra e a escuridão
Em cada poça de água parada
Um reflexo quase apagado
Caminhando por becos na madrugada
Calçadas discalças, dilaceradas
Encobrem a mais singela luz
Sob as trevas dessa madrugada
E amanhacer na névoa gelada
Continuará sendo a sombra da caminhada.
                                           
Oração de uma Libertina

Posso te entregar de livre e bom grado
Meus doces beijos e carícias ardentes,
Posso me doar expontaneamente 
Aos seus caprichos por vãos momentos
E ceder brevemente aos teus desejos
E ainda te fazer crer
Que estes intensos desejos são meus,
E prometer em tuas palavras nunca acreditar
Porém, jamais prometo nada
Porque já me despedi das juras
Também aboli os juros
Que se acumularam das culpas
E por isso e por vontade própria
Vou me despindo pela noite vulgar,
Deixando esquecido os pudores,
Espalhando desejos profanos
Permitindo que profane meu templo
Que há tanto tempo deixou de ser sagrado
O inunde com sua luxúria
E nesse breve instante
Em que meu templo despido é teu fetiche
Te ofereço de joelhos
A minha mais lembrada prece
Aquela que do mundo dos mortos
Há de te fazer levantar
E deste momento, não há de te esquecer
Ao passo que tal sacerdotisa
Pra outros deuses há de orar
E a todos, tão profanos quanto tu
Receberão as mesmas preces
Mas jamais encotrarão
Um tesouro que há escondido
Dentro deste templo perdido.
                                

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Lua Cheia para Marte

No baú de Mnemósine
Busco a textura da tua boca
O gosto do teu beijo
O calor do teu abraço
Os pêlos do teu braço
Nas centenas em que lhe procurei
Meros enganos encontrei
E no mergulho turvo
De uma visão deturpada
Foi teu sorriso que busquei
Foi teu olhar perdido
Teus gestos escondidos
E todas as palavras não ditas
Que em outros procurei
E só eu sei o quanto te busquei
O quanto andei por lugares vazios
Na ânsia de encontrar tuas mãos macias
E sentir o calor do teu corpo
Marte, para sempre a Lua Cheia será tua,
Apenas plena para ti,
Porque a Lua só se fará plena em ti,
Faça a Lua Cheia!
                   
Rito

Bebado
Bebo,
Bebo,
Bebo sim.

Ao passado,
No presente,
E ao futuro
Como um rito a Baco.

Porque Vênus,
Não compareceu ao rito
E Hermes trás em suas sandálias
Poeira e vento...
                     

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Na estrada


Quando partimos
Na luz das estrelas
Não poderíamos imaginar
O que dias e noites
Nos reservariam
Ao longo dessa jornada
Nessa louca estrada
Um que sabe onde vai
Outro que só sabe que vai
No retorno embalados
Pela chuva da manhã
Trazendo histórias pra contar
E dentro do previsto
Já é previsto
Que tudo pode acontecer
Só não se sabe o que.
                              

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Despedida

Os filhos do vento se despedem
Enquanto recitam os mantras sagrados
O filho do Sol
A filha da Lua.

Tantos erros ela cometou
Quantas torturas ele continuou
E o que os consola são os lírios
Que da lama imunda nascem.

Uma estrada repartia a quimera
Um sonho havia acabado
Ele seguia o caminho numa estrada vazia
Ela seguia sozinha no arranhacéu.

Todas as palavras
Já haviam sido ditas
E mesmo assim
Ainda faltou um abraço na despedida.
                                          
O Alvo

Nas setas do Centauro
O alvo é o Leão
Tão firme e decidido
Presa honrável de mirar.

Nos seus bravos rugidos
Sempre tão temidos
Ecoam verdades
Nunca escondidas.

E em suas garras destemidas
Por vezes confundidas
Na fúria dos ataques
É que se encontra o mais sincero abraço.

E mais uma vez
É em seu braço
Que encontro
Meu refúgio.

E de você que é meu alvo,
Quero ser a presa
Tão indefesa
E em suas garras adormecer.
                  
Poemas noturnos

Sou movida por instintos
Desenhados pelo desejo
Expostos visceralmente
Na moldura das madrugadas quentes
Ah, e quantos são os desejos...
Como o de rasgar tua boca
Com minha língua ardente,
Despir teu corpo
Com meu olhar faminto,
Esculpir com minhas mãos
Teus movimentos rítmicos,
Que rompendo meu corpo
Desagua em meu leito,
Enquanto orquestro tua respiração
Cantada ao pé do meu ouvido,
Essa sinfonia que alucina meus sentidos
E invade meu ventre,
Roubando pra ti,
Meu último suspiro.


Indignação

Vou quebrar todos os cartões
Rasgar todos os talões
Queimar todos os carnês
E depois de um mês
Todos os shoppings incendiar
E uma bomba por cada banco espalhar
Certamente se pega for, presa serei
De terrorista serei chamada
E sumariamente condenada
Pela mesma sociedade
Que passa a vida
A ser torturada pelas autoridades
E autoritarismos
Explorada pelos cartões
Expoliada pelos banqueiros
Na cega convicção
Amordaçada pelo capitalismo
Que barganha seu apoio
Através de falsas promessas medíocres
E então a população 
Mesmo explorada, manipulada
Vai permanecendo...
Contraria a indignação.
                             


O jogo

Uma das filhas de Quíron
Não entendia
Porque sempre se atraía
Por certa espécie de felinos
E tudo começava
Como uma grande brincadeira
Entravam no jogo
A vaidade e o poder
Na face de Narcizo
A fêmea do Centauro
Preparava seu arco
Afiava suas setas
Lançava o olhar no horizonte
E batia os cascos,
Como quem bate o tambor
Antes de ir para a guerra
Carregava consigo o escudo
Com o qual protegia seu coração
E quando mirava seu alvo
Sabia que seria a caça perfeita
Entre as árvores à espreita
Com seu arco e suas setas
À posto na espera
Eis que surge o alvo,
Caminhando pela floresta
A filha de Quíron pensa
Agora vai começar a festa
No seu jogo com o balançar das crinas,
Atrai o grande felino
Este que entra na brincadeira
Acreditando-se vencedor
E assim ela o faz pensar
Até o momento de o acertar
E ele que já se considerava o ganhador,
Nao percebe que o jogo acabou.
                                 
Em uma madrugada

Suas mãos passeiam pelo meu corpo
E se perdem nas minhas curvas
A cada nova curva sua língua
Desenha minha circunferência
Seu corpo irrigado de sangue
Que entra em ebulição
A cada centímetro
Em direção ao meu centro
E quando a seta atinge o meio
Suas mãos perdidas
Se encontram em meus quadris
E para não perder o foco
O seguram com precisão
Sua saliva dá de beber a minha sede
E sua língua circula meu colo
Nesse momento meu corpo aquecido
Deseja seu corpo ebulindo
Então a seta certeira
Acerta o meio
E seu corpo
Funde-se ao meu
Entre nós não há mais espaço
Ocupamos o mesmo espaço
Um dentro do outro
E a boca é o único orifício
De onde escapa alguma coisa
Um gemido
Tão intenso e tão profundo
Que extasia os sentidos
Nesse exato instante
Seu corpo que habita o meu
Deságua dentro de mim
Enquanto meu corpo estremece
Sugando todo o teu.
                                  
Burrocracia
 
A burocracia,
Burrocracia
Sustenta a máquina
Manipulada por banqueiros!

Burgueses,
Burgueses que aprisionam a sociedade
Burgueses escrotos!
Que ingessam a sociedade.

E se apóiam na esperta burrocracia
E se eximem das culpas
Porque sabiamente
A culpa é da burocracia!

E se alguém ousar se levantar
Dos bancos fofos dos banqueiros
E estes versos gritar
Impedido será.

Calado será
Com a mordaça da sutil ditadura,
A camuflada censura
Esta que se disfarça sob a pele da democracia.