domingo, 20 de novembro de 2011

A espera

Esperar, esperar, esperar
Enquanto isso,
A paciência  exercitar
E nas malas carregar
Peças inúteis,
Na cabeça a rebeldia,
No coração, a não submissão.
No outono ainda com cheiro
Das flores da primavera
E as folhas secas,
Caídas no chão
Enquanto o ônibus passa
Uma mulher varre a calçada
E os pensamentos vagam
Entre o ar do outono,
Com cheiro de primavera
Misturado ao cheiro da gordura do pastel
Que se come num boteco,
Enquanto se espera.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

E tal como uma boa pagã
Não acredito em céu ou inferno,
Apenas circulo entre o Olímpo e o Hades,
Por vezes com Eros,
Outras com Ares.
O tempo passa...
Com o implacável nascer e morrer do sol de cada dia
As brumas entrelaçam as lembranças
Para perderem-se nos labirintos da memória
Quando a névoa do tempo encobre o passado                                             É mais fácil lembrar-se dele com a perfeição
Que na verdade nunca existiu.
Mazelas

A miséria humana
Permeando o mundo
Em cada canto
Por todos os lados.

As sequelas humanas
Em todos os lugares
O sorriso e a ferida
Ao longo da jornada.

No mundo da dúvida
A morte é a certeza
Viver nesse mundo
Exige esperteza.

As lágrimas se escondem
Debaixo de destroços
E a vida continua
Sorrindo para a morte.
À luz da Loucura

Sinto o cheiro da boemia
Que inebria minha mente
Entre um pega e um trago
Muitas histórias a contar
Dançando em volta do fogo
O pensamento pega carona
Na fumaça que entra na mente
E o instinto já não sente
Fluem naturalmente
Palavras desatinadas
Desmedidas, condenadas
A fome e a sede
Incompreensível aos olhos sem brilho
À luz da loucura
Tudo se torna mais inteligível.
Lugares errados

Nem Helena, nem Falena
O misto da loucura e lucidez
Uma dose de luxúria e sensatez
Uma face do pecado
Outra, do sagrado
No clarão da lua,
Quer raios de sol
Busca seu lugar
Não pertence a nenhum lugar
Mas está por todo lugar
Nas guerras acompanha as tropas
E quando a guerra acaba
Com Clio e Mnemósine
Volta pra casa
Em Ares procura a paz
Nas guerras busca por Eros
E quando Dionísio encerra a festa
Livre retorna pra casa
Carregando consigo a solidão.
Distante

Pensamentos que só ousam pensar
Não são suficientes às palavras
O Centauro cavalgou para longe
E o Leão ficou pra trás
Tão distante a reinar
Em sua floresta sozinho
As crinas ao vento
Os cascos sempre à postos
E sem olhar pra trás
O Centauro segue em frente
E tão longe nos campos onde corre
Livre e destemido...
Pensa no Leão
E dispensa suas lágrimas
Solitárias a ele...sem nunca parar
E ritualiza suas lembranças
À sombra das árvores
Sob as folhas do outono.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

O Dom da Poesia
(Fragmento)

Deixa a palavra escorregar,
Como um jardim o âmbar e a cidra,
Magnânimo e distraído,
Devagar, devagar, devagar.
                                             Boris Pasternak, 1917.
Invocação

Na solidão, Baco me faz companhia
Me embriago nas lembranças
E nos desejos
Com um velho vinho.

Me refugio da saudade como um vício
A adrenalina me persegue
E na monotonia
Essa abstinência me mata.

Na ausência da loucura
A lucidez domina
E para que ela não impere
Invoco a Baco e sua companhia.