segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Um recado para Ricardo

Ricardo, Malú te mandou um recado,
Ela partirá,
Tomará o rumo da Terra do Sol
Entre montes e vales, 
Não te procurará,
Nesta floresta, ela há de vagar
Bem de vagar,
Para apenas se encontrar.

domingo, 9 de setembro de 2012

 As antigas construções


Olho a arquitetura das antigas construções
Penso nos mistérios escondidos no porão
A cada pedra erguida,
Um segredo bem guardado.

Subo num muro de pedra,
Mas não pulo,
Me sento no alto a observar
A pintura descascada não desnuda o mistério.

Nas paredes tem rachaduras
Quem terá habitado ali?
Se o mofo do teto falasse
Talvez me contasse.

sábado, 18 de agosto de 2012

Teias e aranhas

Destino, caminho tecido,
Por aranhas em suas teias
Os fios se soltam ou se encaixam.

Era dia de festa na floresta
O Escorpião soltou seu ferrão
E não apareceu.

Pobre Centauro,
Que de pobre não tinha nada
Esbarrou com o Leão.

O Centauro conhecia o Leão
De outras festas
Em outras florestas.

Foram então dançar
E muitas outras vezes
Voltaram a se encontrar.

E a dança da luxúria
Os guiou numa longa viagem
Onde houveram mais virtudes que pecados.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Segredo ao pé do ouvido

Ela me contou 
Que ao pé do teu ouvido
Um segredo revelou
Mas foi apenas um
Entre os vários mistérios
Que se escondem 
Em seu labirinto libidinoso
Sim, eu sei o que ela te falou
Também sei,
O que não precisou falar
Bastava ter lido,
Enquanto sua boca úmida
Se aproximava daquele corpo quente
E a pele entre seus dentes
E suas mãos se alternavam
No silêncio de uma respiração agitada
E agora ela sente
Sua fenda como nascente
Prestes a inundar.
Imperfeição

Quero um amor
Um amor verdadeiro
Que apareça e permaneça
Que chegue e breve não desapareça.

Quero um amor imperfeito
Que perfeito pareça para meu olhar,
Que perfeito seja
Em sua própria imperfeição.

Quero um amor que penetre meu corpo
Mas não se contente com minha carne
E ao mesmo tempo a deseje cada vez mais.

Quero um amor que segure meus quadris com força
E meus seios com delicadeza,
Me beije com a fome da loucura.

Absorva meus fluidos
E no seu rastro encontre minha alma
Para que ela perdida,
Não se vá.


segunda-feira, 2 de julho de 2012

No cemitério das violetas mortas

Tempo memória, 
Vento passado
O vento passou e levou o tempo
Que traiu a memória.

A memória insistente
Mergulhou no passado
Morreu afogada.

O vento passou
Levou o tempo
Matou a memória.

Que agora jaz,
No cemitério,
Das violetas mortas.
O pêndulo e o espelho

Ela abriu as janelas
E deixou o sol entrar
A luz irradiou
Todo quarto se iluminou.

O sol bateu no espelho
O vento balançou o pêndulo
Que quebrou o espelho.

Os cacos pelo chão se esparramaram
A luz que viajava pela vidraça
Estava a contento.

Se espalhava
Refletindo em cada pedaço de caco
Do espelho quebrado
Pelo vento que bateu no pêndulo.

domingo, 1 de julho de 2012

Era uma vez... Uma historinha medieval - (parte final)

Quando os caminhos 
Da Bruxa e do Cavaleiro
Se cruzaram pela primeira vez
Ela não acreditou.

Mas quando o lobo,
A águia cercou,
Dele, ela não escapou,
Seu olhar, a ela hipnotizou.

A Bruxa pensava, 
O Cavaleiro, a ela, enfeitiçava,
Que chegou a desejar por todos os outros sabás, 
Novamente com ele encontrar.

Sem se importar, 
Permitiu por ele, se deixar dominar,
O lobo não percebia, que só a águia, envolvia,
Porque era ela quem permitia.

Até o dia em que a águia abriu as asas
E para o infinito vôou,
Então a Bruxa percebia, que com o Cavaleiro,
Não mais encontraria nos próximos sábas.

Solitariamente liberta,
Continuou a voar,
Novos campos a encontrar
Para outros rituais realizar.


Alquimia da tristeza

Solidão, tristeza e dor
Fontes eternas de inspiração
Aos poetas que se entregam aos vícios 
E às paixões.

Sujeitos à desilusões
Que somente corações repletos
Tem a grandeza de sentir
E porque mentir?

Transformar a dor em rima,
Tristeza em beleza,
Rotina em poesia.

Poetas alquimizam sentimentos
Transformando tristezas sentidas
Em palavras escritas.

A Fênix

O trem passa
O tempo corre
A noite cai
O dia nasce.

A Fênix morre na noite
E das cinzas,
No outro dia renasce.

O trem passa
Desloca o tempo
Arrasta o vento
E tudo acaba.

Mas no outro dia
Das cinzas,
A Fênix renasce.
Era uma vez... uma historinha medieval

O dia da grande batalha se inicia
Da ânsia que cresce no peito
Nasce a confusão
A noite já se aproxima.

Armados do ataque e da defesa
A Bruxa e o Cavaleiro estão a postos.
Marchando em sentidos opostos
Até o local do combate.

A Bruxa em sua defesa usa o ataque,
Pequenos feitiços, certos fetiches,
O Cavaleiro de muitas guerras vividas
Usa táticas aprendidas.

E neste momento de embate
Entre o fogo e o combate
Todas as regras podem ser quebradas
E o impossível já vislumbra o previsível.

domingo, 24 de junho de 2012

Intenções veladas

O que poderia você fazer
Pra romper o silêncio da solidão
Que nas noites frias
Rasga seu coração? 

Que o universo
Por este verso conspirasse
Trazendo no calor do verão
O cheiro da primavera perdida.

Mesmo em épocas de frio
Quando as estrelas das noites de inverno
Envoltas na névoa gelada
Reluzem mais que no verão.

Em cada ponto brilhante
Uma única intenção no semblante
É perigoso lhe ver nesse instante
Intenções veladas pela névoa gelada.

Contar estrelas escondidas
Quase esquecidas
Envolve devoção,
As vezes fé, outras paixão.
O resgate da Loucura 

A loucura permeia a vida
A cada ponto e vírgula,
A sanidade e sua metódica chatice
Nos paralisa, 
Tal como uma planta carnívora,
Pronta a nos devorar.
É quando a loucura se transforma
Na grande heroína,
E em suas asas insanas
Vem nos resgatar.
Então aprendemos a voar,
A correr, a gritar
No compasso descompassado
Muitas vezes desafinado
Seguindo por lugares desorientados
Mas loucamente felizes.
Odisseia contemporânea
 
Na odisseia da estrada
Um artista pinta as curvas do mapa
Solitário e sem destino
E sem saber
Que muito longe de sua rota
Alguém lhe espera
Para colorir a vida.

Esse odisseu do asfalto
Que desenha seu destino
Há cada quilometro rodado
E não sabe 
Que uma solitária Penélope
Tece sua espera
Aguardando sua volta.
Fantasmas de fotografias
 
Numa tarde qualquer
Depois de uma noite mal dormida
Noite de sonhos interrompidos
Intercalados por pesadelos 
De fantasmas que assombram 
Na lembrança de velhas fotografias.

O frio da noite passada passou
E do pesadelo acordou
E o fantasma não foi embora
Porque nas cartas estava marcado
Para um dia das sombras retornar
E outra vez ao sol brilhar
Para a lua poder encantar. 

Ao anoitecer não mais se perder
No brilho da noite encontrar
Os braços da lua para adormecer
E ao amanhecer se despedir
Para novamente ao entardecer retornar
E mais uma vez 
Em seus braços repousar.

domingo, 17 de junho de 2012

Palavras em preto e cinza

Choro pelas sementes que não germinamos
Pelas flores que não floresceram
Pelos lugares que não conhecemos
Pelos caminhos que não percorremos.

Lembrando os pecados que não cometemos
Ainda que tivéssemos cometido toda sorte de delitos e delírios,
Choro pelas lágrimas não derramadas
Ou ainda por aquelas choradas nas horas erradas.

Sinto a cor das palavras não ditas
E o gosto daquelas faladas em momentos errados
No calor do sol do meio dia
Vejo em preto e cinza o que nunca deveria ter sido dito.

sábado, 16 de junho de 2012

Fábulas do zodíaco

Um Leão bate à porta do Centauro
E solitário
Sua cama habita.
Os pensamentos de Quíron 
Até então todos envoltos
Pelos instintos do Leão
Se voltam todos ao que nasce aos pares.

A estes dizem ter duas faces
Que na verdade 
Nada mais são
O argumentar verdades absolutas.

Para toda moeda há duas faces
E se nascem aos pares
Seu propósito tem.




segunda-feira, 30 de abril de 2012

Esconde-esconde

A natureza do ser
Brinca de esconde-esconde
Pelos labirintos da alma
Se esconde dele próprio
Que vaga pelo mundo
Tentando encontrá-la
Procura no céu e no mar
Percorre caminhos sem fim
E acaba se perdendo
Tentando achá-la.

domingo, 29 de abril de 2012

Malú e Ricardo

Ricardo, esta noite em sonhos
Malú te procurou
Por teu nome chamou
Mas não te encontrou
Visitou uma casa vazia,
Grande, com lajotas vermelhas
Mais uma vez, nela
Por teu nome gritou
Mas ali, tu não te encontravas
Por onde andavas?
Terás deixado de visitar 
Aquele planeta secreto
Onde por vezes Malú retorna
Para ao acaso,
Secretamente te encontrar?
Acredito que não,
Foi só o acaso que fez descaso
Provocando o desencontro
Fazendo Malú perdida
Uma louca a te procurar
E em meio dessa busca
Em seus mais queridos fantasmas tropeçar.

sábado, 28 de abril de 2012

Despindo o estereótipo

Nas curvas que contornam o estereótipo
Você olha e vê
Curvas sinuosas
Que comportam o mesmo estilo
Revestido com vestido
E longos cabelos compridos
Caídos sob a pele do veludo
Quisera você tocá-la
Ou apenas contemplá-la
Enquanto ela passa
Encoberta pela névoa de sua criação
É apenas visão
Mera imaginação
Que já nem tem mais inovação
É sempre a mesma invenção
E quando passos firmes
Transmutam toda criação
Causando estranheza a sua imaginação
Você olha e vê
Demora pra crer
O estereótipo despido
É quase alienação
Não é Virgem Maria
Mas com sua graça
Já foi puta
Tampouco é da realeza
Mas não abdica na nobreza
Às sete horas da manhã
No ônibus lotado
O trânsito parou
O sinal fechou
Vai chegar atrasada
Tomara que não descontem seu salário
O estereótipo despido
Não tem só mãos aveludadas
Tem marcas de guerra
Batalha de todo dia
 Então olhe e veja
Um ser completo
Mais complexo
Que sua imaginação
É capaz de recriar.

sábado, 31 de março de 2012

"Esta é a noite da nostalgia, me entrego a beleza dos sonhos e da poesia."
Ricardo e Malú


Ricardo, Malú me contou
Que esta noite contigo sonhou
E neste sonho viu seus braços
Tal como acordada se lembrava.

Malú, que por ti Ricardo
Toda sorte de pecados cometeu
E muitos deles,
Contigo aprendeu.

Ricardo, o que pensavas
Na noite passada?
Invocavas pra ti ilusões passadas
Ou já não mais se recordava?
 
Será que em tua memória
Ainda pairam as lembranças de Malú?
Ou a névoa encobre a aurora
Que outrora conhecera apenas tu?

domingo, 18 de março de 2012

Lado B

Fui e voltei com legião
Uma legião de pensamentos
Quando fui, talvez ainda fosse cedo.
Ao retornar... sabe-se lá o que.

Ao ir, reconstrução de um passado utópico
Ao retornar, presente filosófico,
Ao permanecer, extravazar
A rebeldia contida ao longo do dia.

É na noite que nascem
Os verdadeiros eus.
Florescem lá pelas três
E morrem as seis.

No auge da madrugada troco de lado o vinil
E até o novo amanhecer
Quando morro pro dia nascer
Vou seguindo pelo lado B.
Sobre almas e luas

Eu rasgo a madrugada
Com a mesma intensidade 
Com que um dia
Minha alma foi rasgada.

Eu olho e vejo
É o brilho da lua cheia
E como em uma prece,
Peço.

Sua luz que ofusca os olhos
Clareia essa alma rasgada
Assim como faz
Nessa madrugada.
 

sábado, 17 de março de 2012

Chá ou café?

Quero um café quente
Na cama,
Depois de uma noite de luxúria,
Me traga também
Um chá morno,
Estou doente.
Ou a febre é um pretexto
Pra ousar te fazer imaginar,
Me proporcionar
Todo prazer 
Que a volúpia for capaz de captar.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Inquietação

A esperança inunda as horas vazias
No silêncio quebrado,
Sem importância.
O corpo dormento de tanto tormento,
Pensamentos que vagam como os loucos
Perdidos nos labirintos da memória
Percorrem os mundos revisitando a saudade.
E no burburinho de um silêncio quebrado
E sem importância
Viajam em trens descompassados
Pedindo socorro desesperados.
O corpo dói, o sono chega,
A sede invade, o calor incomoda
E nesse instante os desejos correm
Pelos campos a fora
Na carona desse trem desgovernado
Que sem rumo, nem destino
Vaga perdido como um louco.

domingo, 4 de março de 2012

"As madrugadas foram feitas escuras justamente para que poucos pudessem ver através delas. Tornando-se assim, perfeitas aos amantes e poetas."
Sobre lembranças e desejos ocultos

O cheiro da chuva trazido no vento
Do fim da tarde, quase fria,
Faz o pensamento se perder
Entre as lembranças da noite passada
E a sensação recente,
Do dia presente.
E envolto no calor da memória
Ainda sinto a forte leveza
Do teu corpo sobre o meu,
E o gosto doce da tua boca,
Que poderia ter o sabor do anis,
Ou de qualquer outra doce erva.
É possível ainda sentir teu aroma
Que exala dos meus poros.
Ao passo em que o dia,
Quase quente,
Brinca com meus instintos
Me fazendo por vezes
Abandonar a lembrança
Da tua presença no anoitecer passado.
O presente interrompe,
Mesmo que momentaneamente,
Todo pensamento extasiante
Do teu corpo sobre o meu,
Pelo desejo oculto
De quem nunca por mim
Teve os lábios tocados.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Desencontros

Então fui até seu encontro
Prendi meu cabelo em flor
Escolhi o mais belo vestido
Pus meu perfume favorito
Na dose certa pra te seduzir
Me banhei nas águas calmas da esperança
Mergulhei em profundezas tranquilas
Segui por uma estrada certa
Que de certezas não tinha nada
E quando aportei em teu porto,
Já não estavas lá
Descobri então,
Que abandonaste teu posto
Rumo ao meu porto,
E o destino se encarregou do desencontro.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Protótipo imperfeito

Uma noite perfeita para velas,
Incensos e ilusões,
A incandescência foi aplacada
Pela chuva fina do fim do verão
Mas a alma inquieta sente a eletricidade
Que percorre as veias
Com a urgência que a decência
Não ousa ultrapassar.
Hoje a bebida é doce
E quando toca os lábios 
É mais sensato calar.
O novo protótipo é mais comedido,
Suas novas medidas 
Ainda buscam a medida
Para abrigar uma alma 
Que não cabe no novo modelo,
Extravaza o protótipo
Tornando todas as noites,
Até mesmo as amenas,
Incandescentemente desmedidas.