quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Na estrada


Quando partimos
Na luz das estrelas
Não poderíamos imaginar
O que dias e noites
Nos reservariam
Ao longo dessa jornada
Nessa louca estrada
Um que sabe onde vai
Outro que só sabe que vai
No retorno embalados
Pela chuva da manhã
Trazendo histórias pra contar
E dentro do previsto
Já é previsto
Que tudo pode acontecer
Só não se sabe o que.
                              

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Despedida

Os filhos do vento se despedem
Enquanto recitam os mantras sagrados
O filho do Sol
A filha da Lua.

Tantos erros ela cometou
Quantas torturas ele continuou
E o que os consola são os lírios
Que da lama imunda nascem.

Uma estrada repartia a quimera
Um sonho havia acabado
Ele seguia o caminho numa estrada vazia
Ela seguia sozinha no arranhacéu.

Todas as palavras
Já haviam sido ditas
E mesmo assim
Ainda faltou um abraço na despedida.
                                          
O Alvo

Nas setas do Centauro
O alvo é o Leão
Tão firme e decidido
Presa honrável de mirar.

Nos seus bravos rugidos
Sempre tão temidos
Ecoam verdades
Nunca escondidas.

E em suas garras destemidas
Por vezes confundidas
Na fúria dos ataques
É que se encontra o mais sincero abraço.

E mais uma vez
É em seu braço
Que encontro
Meu refúgio.

E de você que é meu alvo,
Quero ser a presa
Tão indefesa
E em suas garras adormecer.
                  
Poemas noturnos

Sou movida por instintos
Desenhados pelo desejo
Expostos visceralmente
Na moldura das madrugadas quentes
Ah, e quantos são os desejos...
Como o de rasgar tua boca
Com minha língua ardente,
Despir teu corpo
Com meu olhar faminto,
Esculpir com minhas mãos
Teus movimentos rítmicos,
Que rompendo meu corpo
Desagua em meu leito,
Enquanto orquestro tua respiração
Cantada ao pé do meu ouvido,
Essa sinfonia que alucina meus sentidos
E invade meu ventre,
Roubando pra ti,
Meu último suspiro.


Indignação

Vou quebrar todos os cartões
Rasgar todos os talões
Queimar todos os carnês
E depois de um mês
Todos os shoppings incendiar
E uma bomba por cada banco espalhar
Certamente se pega for, presa serei
De terrorista serei chamada
E sumariamente condenada
Pela mesma sociedade
Que passa a vida
A ser torturada pelas autoridades
E autoritarismos
Explorada pelos cartões
Expoliada pelos banqueiros
Na cega convicção
Amordaçada pelo capitalismo
Que barganha seu apoio
Através de falsas promessas medíocres
E então a população 
Mesmo explorada, manipulada
Vai permanecendo...
Contraria a indignação.
                             


O jogo

Uma das filhas de Quíron
Não entendia
Porque sempre se atraía
Por certa espécie de felinos
E tudo começava
Como uma grande brincadeira
Entravam no jogo
A vaidade e o poder
Na face de Narcizo
A fêmea do Centauro
Preparava seu arco
Afiava suas setas
Lançava o olhar no horizonte
E batia os cascos,
Como quem bate o tambor
Antes de ir para a guerra
Carregava consigo o escudo
Com o qual protegia seu coração
E quando mirava seu alvo
Sabia que seria a caça perfeita
Entre as árvores à espreita
Com seu arco e suas setas
À posto na espera
Eis que surge o alvo,
Caminhando pela floresta
A filha de Quíron pensa
Agora vai começar a festa
No seu jogo com o balançar das crinas,
Atrai o grande felino
Este que entra na brincadeira
Acreditando-se vencedor
E assim ela o faz pensar
Até o momento de o acertar
E ele que já se considerava o ganhador,
Nao percebe que o jogo acabou.
                                 
Em uma madrugada

Suas mãos passeiam pelo meu corpo
E se perdem nas minhas curvas
A cada nova curva sua língua
Desenha minha circunferência
Seu corpo irrigado de sangue
Que entra em ebulição
A cada centímetro
Em direção ao meu centro
E quando a seta atinge o meio
Suas mãos perdidas
Se encontram em meus quadris
E para não perder o foco
O seguram com precisão
Sua saliva dá de beber a minha sede
E sua língua circula meu colo
Nesse momento meu corpo aquecido
Deseja seu corpo ebulindo
Então a seta certeira
Acerta o meio
E seu corpo
Funde-se ao meu
Entre nós não há mais espaço
Ocupamos o mesmo espaço
Um dentro do outro
E a boca é o único orifício
De onde escapa alguma coisa
Um gemido
Tão intenso e tão profundo
Que extasia os sentidos
Nesse exato instante
Seu corpo que habita o meu
Deságua dentro de mim
Enquanto meu corpo estremece
Sugando todo o teu.
                                  
Burrocracia
 
A burocracia,
Burrocracia
Sustenta a máquina
Manipulada por banqueiros!

Burgueses,
Burgueses que aprisionam a sociedade
Burgueses escrotos!
Que ingessam a sociedade.

E se apóiam na esperta burrocracia
E se eximem das culpas
Porque sabiamente
A culpa é da burocracia!

E se alguém ousar se levantar
Dos bancos fofos dos banqueiros
E estes versos gritar
Impedido será.

Calado será
Com a mordaça da sutil ditadura,
A camuflada censura
Esta que se disfarça sob a pele da democracia.
                                                                     
Toda poesia que há em mim


Eu sou a própria poesia
Leia-me nas entrelinhas
Compreenda meu verso
Descubra meu reverso
Invada meu inverso
Navegue em meu universo
E desvende todo seu mistério
Não se prenda à superfície
Despenque do precipício
Caia nas profundezas
Destas águas obscuras
E quem sabe obscenas
Para quem não teme
Estes versos desvendar.
                                 

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

A Ordem e o Caos

As bruxas governam as noites
E se perdem nas madrugadas
Muitos por elas se perdem
Mas tudo é apenas ilusão.

Ao amanhecer elas descansam
Ao raiar do sol
Se enclausuram
No vazio da solidão.

Cavaleiros mantêm a ordem
Guiam na escuridão
Controlam as tempestades
Detêm as regras nas mãos.

Ao anoitecer descansam
Com as armas no chão
Adormecem para acordar
Só na próxima manhã.

Bruxas pertencem ao caos
Não possuem regras
Cavaleiros e sua ética
Não tardam ao sol raiar.

Cavaleiros e Bruxas nunca se encontram
Habitam mundos distantes
Elas por eles nada nutrem
Porque à suas regras não se enquadram

Eles por sua vez
A elas não se adaptam
Distantes em mundos opostos
Seu caos não lhes agrada.

Mas numa noite uma Bruxa solitária
Dessas que perturbam nas madrugadas
Cruzou no seu caminho
Com um Cavaleiro errante.

Portadora da desconfiança
E da malícia do mundo
Viu nele sua loucura refletida
Confusos pensamentos invadiram sua mente.

Em seus mundos distantes
Longos embates travaram
Até que em outra noite do destino
O mesmo espaço habitaram.

Nessa noite a Bruxa não governou
E o Cavaleiro sua ordem não controlou
Os únicos que reinaram
Foram o fogo, a magia e a loucura.

De uma distância quase intransponível
Aos poucos próximos estavam
A ordem e o caos
De repente se tocaram.

A Bruxa por obra da loucura estava enfeitiçada
E o Cavaleiro por parte da magia suas regras quebrava
E o corpo dela desejava
E ela perdia a malícia, o próprio feitiço contra ela se voltava.

Quando percebeu
As mãos do Cavaleiro por seu corpo deslizavam
E as vestes já não a cobriam mais
Assim seu pranto se iniciava.

Como em um ritual de passagem
Uma viagem começava
As chamas do fogo
Em seus pensamentos pairavam.

Enquanto as mãos dele
Por seu corpo peregrinavam
Nessa noite a Bruxa não se perdeu na madrugada
Perdeu-se pelo Cavaleiro.

E o Cavaleiro preferiu
Esquecer a ordem
E penetrar o caos
Mas o caos a ele se negava.

Até o momento em que a Bruxa
Dominada pela magia ou pela loucura do Cavaleiro
Não conseguia mais lhe negar
Ele agora dominava o caos que tanto desejava.

Invadiu seu corpo buscando sua alma
Ela mesmo perdida, sua alma não entregava
Mas a cada gemido que a loucura lhe emprestava
Sabia que na fusão, sua alma era roubada.

Nessa noite em que o fogo governava os pensamentos
Em que a magia, a Bruxa, enfeitiçava
E a loucura guiava as mãos do Cavaleiro
Num corpo só se transformaram.

E os beijos não eram beijos roubados
Eram desejados
E seus corpos se perdiam
Entre o medo e o desejo.

Por fim não mais escapar podiam
Então em uma entrega se fundiram
Com o medo, o desejo e o prazer
Que a loucura, a magia e o fogo lhes propiciava.